sexta-feira, 20 de junho de 2008


Aqui eu te amo.


Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforece a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.
Descinge-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.

Só.

As vezes amanheço, e minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velha âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta..

Eu amo o que não tenho.

E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento, querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

Pablo Neruda

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