sábado, 6 de fevereiro de 2010

Saudades....


Que saudades!


Como pode alguém sentir saudades do que nunca houve?


Como pode alguém sentir saudades do que nem viveu?


É como estou hoje,


Com saudades!


Morrendo de saudades dos sonhos que criei,


Chorando de saudades das horas que imaginei,


Das histórias que sonhei.


Hoje estou assim,


Querendo que o tempo vá para onde eu quero,


Para onde ele nunca esteve.


Mas a saudade é tanta que me paralisa,


É muita saudade


E nem aconteceu


E nada eu vivi.


Como se pode sentir saudades de uma época que não existiu?


De fantasias e de promessas que nunca se concretizaram?


Por que sentir saudades de um futuro inventado


quando há um presente imenso para se viver?


Mas não se manda no coração.


O coração é pretensioso e quase sempre faz o que quer,


A razão até tenta dominar,


Mas raramente consegue.


E por causa do coração a gente faz um monte de besteira


E fica esperando, esperando…


Esperando que tudo volte a ser como antigamente…


Ou pior,


Que tudo seja como criamos em nossos sonhos mais recorrentes.




(Clarice Lispector)

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